Eu vou pra maracangalha…


Os dias que se seguiram…
setembro 6, 2008, 9:23 pm
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“Toda a minha vida eu agi de acordo com as expectativas da sociedade. Seguira uma trajetória previsível, dominada por dois títulos universitários e 13 anos de trabalho executivo em uma grande corporação. MInha identidade era definida pela carreira, mas eu estava prestes a desafiar o status quo- planejava uma mudança radical, um grande salto para o desconhecido: do executivo bem sucedido para o cara desempregado montando bibliotecas no Himalaia” Trecho do livro de John Wood, que largou a Microsoft para “montar bibliotecas”.

Chega um momento em que você não aguenta mais ter de fazer tudo o que todo mundo faz e viver numa vida normalzinha como todo mundo…Ver, dia após dia, coisas erradas ou que não têm nada a ver com você acontecendo no seu trabalho, ou mesmo você se vê obrigado a tomar ações em que não acredita por que precisa pagar as contas de final de mês…

Nesse momento, você se dá por conta de que tudo em que acreditava que iria acontecer ou em quem iria se tornar nesse cargo de grande empresa, cheio de conhecimentos e dinheiro no bolso, na verdade não preenchem o que você sente que precisa ser preenchido em algum lugar dentro de você, que você nunca teve tempo de perceber. Só que nesse momento, você percebe que já se passaram alguns anos e não sabe como voltar atrás…

Passei muito tempo dialogando comigo mesmo, pra tentar explicar a sensação que tinha- de desconforto e de estar no lugar errado- naquela última semana em que não aguentava mais olhar pra cara do meu chefe, e que tudo que eu precisava fazer na empresa já não correspondia ao que eu acreditava quando entrei lá…Então, como num acordo generalizado de mal estar e como se meus pensamentos mais secretos de largar aquilo tudo tivessem sido ouvidos pelo céu, meu chefe me “presenteia” com uma carta de demissão!

Na verdade, ele fez por mim o que eu não tive coragem, por que calculava demais os danos de não ganhar o que eu ganhava a cada dia 05 do mês…De qualquer forma, suas palavras soaram pra mim como: “Você está liberado de nós, faça o que tem que ser feito e viva a sua vida”…Por isso, no dia seguinte me senti livre, como tinha me sentido apenas uma vez, na adolescência, quando peguei um avião sozinho para tirar férias na Bahia.

Os dias que se seguiram foram povoados de ondas de medo e coragem. Eu pensava o que diria pra minha namorada e sogros e pais, como me sustentaria, como justificaria o que todo mundo tacharia de loucura…como não querer um bom emprego, ganhos altos, oportunidades de crescer??? e o pior…como largar tudo e viajar???

Não sei como, mas vendi meu carro 36 dias depois, acertei o aluguel do meu apartamento (que meus pais me deram quando eu passei no vestibular), pra dali uns dias depois e, em meio a cenas regadas por lágrimas da minha namorada, recebi o envelope com meu passaporte carimbado com visto para a Índia.

A única coisa que eu sei, é que todas as coisas mais importantes da vida, se a gente parar pra pensar demais, não fazemos nada! Por isso fiz o que sabia que tinha que fazer, sem ajuda da razão!



O que fazer quando se tem todo o tempo…
agosto 28, 2008, 9:58 pm
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Quando o mundo se torna esmagador ao nosso redor, sentar pra fumar sem tempo de parar é um prazer inenarrável! Como já dizia o italiano de “O Ócio Criativo”, nada como sentar sem nada pra fazer, para se perceber o potencial nosso e das coisas, e avançar!

No mundo em que a gente se enredou, burocracias são imprescindíveis para estar “por dentro” do que quer que seja, portanto, para poder se livrar de coisas, seria preciso entrar por essa porta estreita também!

Como se a liberdade precisasse de planejamento, lá fui:
Assim que este suco terminar, vou colocar o cartaz de vende-se no carro, as fotos com aquele texto sobre “as vantagens de se alugar um ap. montado, perto da faculdade”, no mural da federal e…o melhor de tudo: esta carta aqui! Vou levar como uma pedra preciosa até aquele filho da p* do meu chefe, e ter a conversa que eu sempre quis ter, de igual pra igual, com ele!!!



Acidentes de percurso e o dia seguinte
agosto 22, 2008, 1:18 am
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SEMPRE TEM UM DIA SEGUINTE DE RESSACA…
Voltou pra cama sonolento, sabia que precisava levantar, sentou na beira da cama, olhou o chão… os chinelos havaianas verde-velhos esperando…respirou fundo, calçou os verdinhos e pegou o telefone no criado-mudo.

Discou aquele número de anúncios que dá toda hora na TV…enquanto chamava, formulou rápido o pequeno texto…o coração acelerou, a atendente deu “bom dia” e blábláblá. Ele pigarreou e como se estivesse acordado há muito, ditou o texto com um risinho no canto dos lábios.

Quando desligou, levantou da cama, espreguiçou como quem está de férias e olhou de novo pro telefone. O próximo passo: as fotos!

E foi isso que ele fez. Ainda com a máquina em punho, foi até o banheiro, olhou a cara no espelho e resolveu fazer a barba. Olhava seus olhos refletidos com uma curiosidade ímpar, fez a barba com delicadeza e vagarosamente. Vestiu a roupa de ontem, que estava jogada na cadeira do computador, pegou o cigarro e a carteira, puxou a cadeira e – esqueceu a máquina!- voltou pra pegar a máquina que estava no banheiro e sentou…Assim que terminou, imprimiu as fotos, organizadas com o texto no papel branco e saiu.

Aquele dia parecia tão…único! Um dia de dar risada! Ele olhou a rua em volta do prédio, sentiu que era dono de si, faltava só um chapéu de estilo pra completar a cena. Seguiu em frente. Como quem tem todo o tempo do mundo, suspirou e resolveu sentar no café Duque pra olhar o movimento das ruas e arquitetar o que viria. Leu o jornal, comeu pão de queijo com suco de laranja, olhou umas revistas de fofoca e acendeu um cigarro com prazer!

Na fumaça que subia de seu pito, iam os longínqüos pensamentos ganhando o mundo, quase cantarolando, sutis planejamentos das próximas horas, nada por fazer e o mundo a espera do “por vir”!


O ACIDENTE DE PERCURSO…
Um dia, resolvi olhar no espelho e fazer tudo diferente do que sempre fiz…então a liberdade abriu a porta e eu fui…

Só que isso é produto de uma semana sentindo que os colegas de trabalho te olham de lado, que o clima na empresa não anda bem, que você se dá por conta de que esse mundinho que sempre sonhou em entrar- empresa de porte, salário bacana- não passa de um monte de interesses que engolem o bom senso e que o teu chefe te chama pra conversar e tira uma carta de demissão de dentro da gaveta sem mais explicações…

O-ou…pára o mundo que preciso reformular o caminho a seguir!
Diz um mestre budista, que o desempregado deveria ser o mais feliz de todos, porque ele tem um mundo de possibilidades a escolher. Isso é exercer a liberdade primordial que a gente têm, não é?!



Abre os olhos pra ver o mundo…
agosto 21, 2008, 10:48 pm
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O DIA SEGUINTE DO PRIMEIRO PASSO…
Abre os olhos e vê a luz ofuscar suas pupilas…Fecha os olhos…Abre um deles…Respiração ofegante, pensamento agitado: “Caí do céu” ou “Será que anotaram a placa da jamanta que passou por cima de mim?” O dia clareou e ele nem viu, sozinho na cama, sentindo uma vontade gigante de mijar, olha pra os lados e lembra que depois que o dia clareia “é hora de estar chegando na mesa de trabalho” (…) Será que este é meu destino?

Levanta da cama, vai até a privada e sente um alívio: “Não! Vou voltar pra cama, dormir mais um pouco, não quero respostas, nem mandamentos, muito menos ver a cara das minhas hipócritas colegas de trabalho sorrindo um sorriso-amarelo-pra-ser-educada-com-olhar-de-”tô sem paciência”. Sinceramente o mundo não vai parar, não vou mudá-lo e as pessoas não vão se importar, a não ser que isso mude os planos delas…e quer saber? Que elas façam planos que não envolvam os outros…

Um dia ele acordou sem paciência de vestir a velha máscara, quis ficar de pijama o dia inteiro, sem celular por perto, sem a obrigação de ver as caras que precisam se aturar pro mundo ser civilizado…Apertou o botão do “foda-se” e pediu pra ser ele mesmo, olhar pra o espelho a barba por fazer e entender onde estava antes de entrar na roda gigante que não parou nunca mais pra ele descer…

Só que o dia passou tão rápido e ele ficou tão perdido tentando desenredar de si mesmo, na mistura preparada pra estar com os outros, que foi preciso mais um dia, e outro mais, e outro, pra ele olhar em volta e ver que aquele era só um dia, diante dos passos de volta – na correria de andar descalço em cascalhos por aquela praia sozinho, podendo gritar e ver que era outro dia, um dia novo, e que não voltaria mais àquele dia cinzento que ofuscava seu olhar!


O PRIMEIRO PASSO…
“São dez horas da manhã e você acabou de acordar, ainda de pijama , mas já está trabalhando. Toma um gole de café, lê alguns e-mail’s, coloca um CD, põe os pés para cima e as mãos atrás da cabeça e começa a organizar como será seu dia de trabalho. Este deve ser o sonho de muita gente e é também a descrição perfeita de um trabalhador moderno segundo a teoria do ócio criativo do sociólogo italiano Domenico de Masi.”

Uma terça-feira de tarde, ressaca dos acontecimentos da manhã, querendo encontrar uma solução, li esse texto na página da Sociedade Literária Prometheus, pelo colunista Marcos André Pizzolatto. As questões com meu trabalho e o “pacote” que vinha junto dele – de pessoas insanas que se dizem “chefes” de qualquer coisa e que não valem nada- rondavam a minha cabeça, me deixando tonto…

Depois de arrumar minha mesa de trabalho, vasculhar a internet, apagar meus projetos pessoais do computador e colocar umas coisas na pasta, fui até a Cultura, direto na atendente com meu pedido em punho: nunca fui tão certeiro ao entrar em uma livraria…passos firmes de quem sabe o que quer, sem titubear, peguei o livro e fui até o caixa…no caminho um outro livro me chamou…parecia piscar pra mim, reluzente, quase caiu na minha mão…”Saí da Microsoft para mudar o mundo”

Foi aí que me deu um “clic”, naquela tarde em que o perigo de não ser mais pertencente a este lugar bateu em minha porta, com a cabeça rodando, li inteiro o John Wood.